ESTUDOS URBANOS

2007/08/10

Paisagem e Imagem Paisagística: Contribuições para um enfoque contemporâneo
Miguel Vitale

2007/06/27

Possíveis configurações além da metropolização
Rosa Moura

2007/06/26

O fim-começo da aventura literária
Luís Eustáquio Soares

2007/06/24

A cidade se estende para todos os lados. Terrenos nas proximidades de aeroportos ou de novas confluências de vias podem tornar-se mais caros que os do centro. Os tecidos urbanos se transformam devido a correntes de tráfego que tornam a centralidade relativa. E mais do que isso, o "tecido urbano" deixa de ser uma designação estrita, pois não expressa mais o domínio edificado nas cidades, "mas o conjunto das manifestações de predomínio da cidade sobre o campo. Nessa acepção, uma segunda residência, uma rodovia, um supermercado em pleno campo, fazem parte do tecido urbano" (LEFÈBVRE 1999: 17). E ainda mais do que isso: "as cidades pequenas e médias tornam-se dependências, semicolônias da metrópole" (idem). Acreditando que o "regime metropolitano" marca o clímax e o término de uma experiência urbana, o urbanista Lewis Munford lutou contra essa descaracterização do centro (downtown), por este ser o local da origem da urbe, o espaço da memória urbana. "Lewis Mumford caracterizou a cidade medieval como modelo urbano ideal, como produtora de uma vida cultural variada e rica, destacando-se no desenvolvimento de novas tecnologias" (RAMINELLI 1997: 192).

A visão culturalista e nostálgica de Munford tal qual irmanada e acirrada como Marshal Berman - ainda que por motivos diversos - contra Robert Moses se diferencia conceitualmente de Campos Filho:
Ao invés de se querer conectar todas as vias entre si, vejo essa descontinuidade mais como uma oportunidade de criarmos 'ilhas de tranquilidade', que naturalmente já existem devido a essa mesma descontinuidade.
Tirar partido desse 'defeito' no nível abstrato, transformando-o na qualidade resultante de menos tráfego é, a meu ver, ums postura inteligente (2003:119).
REFERÊNCIAS>
CAMPOS FILHO, Candido Malta Campos. Reinvente seu bairro: caminhos para você participar do planejamento de sua cidade. São Paulo: Editora 34. 2003.
LEFÈBVRE. Henri. A revolução urbana. Belo Horizonte: Editora UFMG. 1999.
RAMINELLI, Ronald. História urbana. in Domínio da história: ensaios de teoria e metodologia. CARDOSO,C. F. e VAINFAS, R. (Orgs.). Rio de Janeiro: Editora Campus. 1997.

2007/06/23


A imaginabilidade de Julio Verne
Centenário do pai da ficção científica
No centenário de Julio verne
Verne
Exposição e Paris resgata Verne
O mundo possui seis continentes
Alguns aspectos de Julio Verne
As obras de Julio Verne
Viagem ao centro da terra

A era das metrópoles
Podemos dizer que o século XX é a era das metrópoles. Mesmo Fustel de Coulanges, Marx Weber ou George Simmel que vivenciaram o cotidiano de algumas das metrópoles européias na segunda metade do século XIX não poderiam prever uma cidade com mais de dez milhões de habitantes. Mesmo no século cuja marca é o crescimento e a proliferação de cidades em escala e marcha industrial, o caos urbano não poderia suscitar o cenário hodierno das construções hiper-textuais, das cidades em rede, "cidades genéricas", espaços de desterritorializações, em cujos espaços híbridos a "cidade letrada" subjuga os seus viventes anônimos a caminhos errantes como deuses caidos de múltiplas identidades cambiadas no mercado das teorias, símbolos, metáforas, sensibilidades e vivências. "Não há nada lá", diria Joca Terron, ou isso é "O sonho interrompido por guilhotina". Somente a imaginabilidade de Julio Verne (em 1889) com sua geometria imaginária pôde prever cidades com dez milhões de habitantes, mas isso somente para 2889.

Links para textos acadêmicos

DEÁK, Csaba

Leandro Medrano 1

Leandro Medrano 2

Luiz Recamán

Eduardo Nobre

Gorelik

La ciudad y sus signos

Mario Margulis

A fabricação do presente

As zonas imateriais das metrópoles de palavras

O modo como os intelectuais articulam textos, teorías, símbolos, metáforas, imagens e imaginações e as comunicam, tem produzido sujeitos e espaços desterritorializados que cada vez parecem mais habitantes das cidades invisíveis de Calvino ou da ilha de Morel ou da Macondo de Marquez, onde tudo é possível: o trans-espaço, o não-lugar, o quase objeto, o hiper objeto, coisas e seres que parecem estar desconectados de uma lógica social, ou conectados a uma lógica material imaginada. Tais são as zonas imateriais das metrópoles de palavras. Terra de ninguém. Aparentemente sem forma nem estrutura, suspensa sobre tudo e sobre todos. A sua inapreensibilidade é angustiante, mas é a glória dos letrados.
Trata-se dos imaginários urbanos da "tribo global acadêmica" que reifica o caos e que por meio da desconstrução da desconstrução, traduz a técnica e o projeto urbanísticos como antiintelectualidade. Vale mais a imaterialidade do falar sobre a cidade do que a materialidade do agir sobre a cidade, uma arquologia do saber, "uma filosofia já desprendida de certa metafísica, porque desligada do espaço de ordem, mas voltada ao Tempo, ao seu fluxo, seus retornos, porque presa ao modo de ser da História" (FOUCAULT 1999: 301). Ou seja, as zonas imateriais das metrópoles constituem-se em plus de história, plus de símbolos que aciona etnologias de urgência, pois é preciso continuar especulando sobre o futuro, e esse futuro se torna o presente que é uma "reprodução antecipada do passado". "Entre o gesto, a construção, a linguagem, não há espaço para escolha, tudo deve ser transmitido graças a uma operação prévia de conservação" (JEUDY 2005: 16). Cada vez mais não há espaço para o projeto e as técnicas de intervenção no espaço. As metáforas valem mais do que os argumentos. Contudo, isso não significa que o cotidiano tenha se tornado mais poético, mas que
"as políticas pontuais de 'preservação' ou 'resgate cultural' derivam necessariamente na estetização de guetos, quando se trata de sítios fora de circuitos interessantes para o capital, ou em produções cenográficas para o gentrification e o consumo turístico com brutais realocações de populações, quando se trata de sítios promissores para a economia urbana" (GORELIK 2002)

REFERÊNCIAS:

FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas. São Paulo: Martins Fontes. 1999.
GORELIK, Adrián. Imaginarios urbanos e imaginación urbana: Para un recorrido por los lugares comunes de los estudios culturales urbanos. EURE (Santiago), maio 2002, vol.28, no.83, p.125-136. ISSN 0250-7161.

2007/06/22



A morada e o trabalho


Metropolização de Goiânia entre a morada e o trabalho

O morar e o trabalhar se tornam funções na cidade planejada.
Essas duas funções estão justapostas no coração de Goiânia, na Praça Cívica, local onde se construiu O Palácio das Esmeraldas, a casa oficial de Pedro Ludovico, e nos anos 1960, o Centro Administrativo, edifício de múltiplos pavimentos que abrigou a reforma admistrativa emplementada pelo então governador Mauro Borges (este, filho de Pedro Ludovico. O pai, marcando a criação da cidade, o filho marcando a sua metropolização ao construir um edifício símbolo da verticalização que estava em curso na cidade)

Metropolização de Goiânia: Esboço, desenho e pintura

As fotos antigas de Goiânia dão a senha para três elementos de análise que de certa forma são como pontes
históricas entre a cidade como um esboço de metrópole e a cidade como uma pintura acabada de metrópole. São elementos visuais que levam em conta não o valor em si, mas a atribuição de valor que damos a eles, ou seja, não se trata de tratarmos a cidade como objeto de arte, mas atribuir a ela um valor estético, ou seja, considerá-la como um espaço visual.
No decorrer da história de Goiânia, esse espaço visual ao qual me refiro se desdobra em esboço, desenho e pintura, três momentos de uma análise visual. Os três elementos que dão a senha para essa análise, estão presente neste desenrolar histórico desde o momento em que a cidade ainda era um esboço de metrópole. Estou me referindo às vias (caminhos publicos), percursos (caminhos individuais) e aos edifícios.
Se observarmos nas imagem ( à cima, à direita), os três elementos estão presentes, compondo o referido esboço nos idos dos anos 1930. O edifício que está precisamente situado na malha urbana nascente é o Grande Hotel, primeira edificação oficial erigida em Goiânia, por isso se destacando de qualquer ângulo que se olhasse. Um grande volume branco anunciando as "abstrações interessadas" da cidade que consideramos cidade, esboço, desenho e pintura, não como um lugar onde se mora, ou se deva a princípio morar - e, nesse sentido, como diz Argan, seria extremamente interessante estender à cidade o estudo feito por Gaston Bachelard sobre a casa que contém as imagens profundas e psicologizantes de espaço e tempo -, mas z cidade com uma máquina que realiza funções maquinais e que por isso maquina e reproduz novas e replicantes funções.

2007/06/21

Entre Hotéis e Imagens

História de Hotel


A história dos hotéis de Goiânia começa oficialmente com o Grande Hotel, mas na época da inauguração da cidade já haviam pequenos hotéis e pensões tanto em Goiânia quanto em Campinas.O Grande Hotel foi mais que um hotel comum, ele por muito tempo concentrou a vida cultural em Goiânia, inclusive o famoso footing que acontecia em sua frente, no trecho da Goiás entre a rua 3 e a Anhanguera. Um dos pequenos hotéis que existia na época que o Grande HOtel foi inaugurado chamava-se Hotel Marmo, os "restos mortais" dele ainda existem na Anhanguera, hoje funciona um estacionamento. No Grande HOtel hospedou-se uma grande figura, Levi Strauss, na época que ele viajou pelo Brasil Central para pesquisar os índios que viraram assunto de seu livro mais importante: Tristes Trópicos. Acho que ainda há um vazio sobre a história do Grande HOtel, pois é oficialmente a primeira construção a ser iniciada em Goiânia, um sólido geométrico branco despontando por as irregularidades planas do imenso cerrado, volume que se destaca em qualquer fotografia antiga de Goiânia.

História de Hotel 2 - Metropolização de Goiania entre hotéis e imagens

Suponho que um segundo capítulo dos hotéis em Goiânia deveria contar a História do Umuarama Hotel, mas não por ele ser um luxuoso (na época) hotel em estilo e estrutura modernista, pois, mais do que ser modernista, ele representa um momento de reconfiguração da arquitetura da e da estrutura urbana da cidade (isso eu contarei na tese que estou fazendo pela UFG): o Umuarama marca o período em que Goiânia se verticaliza, mas não por ele ser um prédio alto, pois haviam outros prédios altos sendo construídos no período (a Márcia Metran fala de um edifiício residencial no Centro, em sua dissertação de mestrado feita pela USP), mas por sua construção ter provocado a transferência do Mercado Central de Goiânia, que se localizava bem em frente ao terreno onde foi construído (o Mercado Central foi derrubado para ser construído um edifício Garagem, o Parthenon Center). Nesse sentido o Umuarama Hotel é um legítimo higienizador do espaço urbano, alegando-se que o Mercado Central logo à sua frente acumulava lixo, sujeira e esterco de cavalos, cujas charretes ficavam estacionadas exatamente no terreno baldio onde foi erigido o Umuarama. O hotel moderno não poderia conviver com a estrutura arcaica do Mercado Popular. O Umuaram é um higienizador não apenas de odores e sujeiras. A sua construção significa o apagamento de um ícone central das memórias cotidianas dos moradores de Goiânia, coisas "sujas" do passado, que deveriam ser apagadas para se construir um futuro limpo, desenvolvido e moderno. A derrubada do mercado central marca portanto, a metropolização de Goiânia, o fim de uma vida "comunitária" em que todos se conheciam pelo nome, se encontrando no Mercado, davam "bom dia", perguntavam pelos filhos, netos, etc. Inicia-se assim o desrefenciamento do passado, sendo este invertido por novas estruturas físicas, neste caso, o Hotel Umuarama.

História de HOtel 3

Um terceiro capítulo de uma história dos hotéis em Goiânia deveria focar no Castro´s HOtel. O curioso desse hotel, é que o seu dono é um alfaiate (que até hoje mantém seus ofícios de alfaiate, é ele quem costura os ternos do governador Marconi Perillo e outras personalidades, por puro prazer do ofício) que enriqueceu. O Castros é o único hotel cinco estrelas em Goiânia, ele marca o período em que o governo dos militares passou a estabelecer programas de incentivo ao turismo no Brasil, financiando estruturas como hotéis e clubes, incentivos esses que resultaram na configuração de uma das principais atrações turísticas brasileiras, a cidade de Caldas Novas, onde se fixou uma estrutura hoteleira complexa. Seria interessante estudar a estrutura física do Castros, porém, as suas atrações parecem ir além disso, com importantes Goumerts e programações culturais como Congressos e até shows de jazz.

História de HOtel 4

Um quarto e último capítulo, já quase um adendo, deveria tratar da fase de implantação dos hotéis em redes, dentre eles o Íbis, e o Confort. Esses hotéis em rede dão ensejo à análise das características de uma cidade pós-moderna, "ciudade generica", diria Ren Koolhas.

2007/04/15

A cidade-Pollock ou a cidade-Bacon

A arte, tanto a pictórica quanto a urbana, ocidental, a que se entende desde o século XVI, ou seja, a partir do Renascimento Italiano, é, sobretudo, definida como uma construção artificial, resultante do espírito humano que opõe cultura à natureza. Tal arte do artificial levou na prática a uma impossibilidade histórica de organização a priori do espaço ou dos meios de representação. Tal impossibilidade revelou o surgimento de cidades do esboço à pintura, como lutas de poderes ou micropoderes de cidades em árvores contra cidades em semi-tramas. Esse embate surge em grande medida porque as "regras" para as relações entre as formas e procedimentos sociais são refeitas a cada momento, resultando em diversas segmentações que vão desde o nascedouro das formas materiais até à própria recepção de seus significados. Essas segmentações insurgem-se contra qualquer possibilidade de uma linguagem universal, única, comum. Tamanha complexidade social alimenta-se do ambiguo, de sobreposições, e de posicionamentos intermediários, mas reconfigura o embate da cidade dual na dicotomia urbana cidade tridimensional versus cidade bidimensional, de modo tal que se perde a percepção do tridimensional contido na imagem resultante. A intrigante "lógica da sensação" contida nessa imagem nos sugere com Bruno Munari que "das coisas nascem coisas".

2007/02/15

O quase-objeto: prelúdio para uma observação impossível


A história da vida urbana nas metrópoles registra o quase impossível de ser registrado. Isso porquê ainda estamos aficcionados pela documentação de nosso passado e na compreensão de nosso processos sociais que resultam em cidades. Mas a aceleração da história contemporânea é de tal ordem, que o registro da mudança se torna quase impossível para um observador estacionário, então, documentamos o quase inapreensível constantemente por meio da crítica. Utilizamos a crítica para o registr processos críticos.
Para Eduardo Neira Alva (1), a história urbana se tornou, especialmente nas metrópoles, um filme cujas imagens isoladas teriam pouco sentido se a projeção se detivesse. Porém, a partir dessas imagens isoladas, verdadeiras narrativas urbanas, é possível refletir uma infinidade de relações que podem ser reconstituidas como inapreensão do holístico. Erik Swyngedouw (2) tenta nomear essa inapreensão como meio rarrativo para a criação de novos objetos de conhecimento. Por isso é que afirma que tal situação complexa requer a identificação da socionatureza em objetos cyborgs ou quase objetos, situações ou instantes narrativos que hibiridizam rizomas de objetos e sujeitos, nos quais a organização, o controle, o domínio, a domesticação e a privatização, fundem transformação social e urbanização durante processos de circulação que internalizam uma série de multiplas relações de poder associadas a recortes étnicos, de gênero e de classe, produzindo ao mesmo tempo idiossincrasias e homogeneizações que desaguam na esfera do dinheiro e do capital cultural. Para Swyngedouw, essa é a ecologia política da socionatureza, que naturaliza e que desnaturaliza, sendo, por isso, possível reconstruir e teorizar o processo de urbanização enquanto processo político-ecológico, ou seja, em que "distintas categorias (natureza, sociedade, cidade, espécies, etc) são produtos da infusão de práticas material-discursivas (...), uma episteme de base processual em que nada é fixo ou, mais exatamente, a fixidez é um breve momento que pode nunca ser apreendido em sua inteireza uma vez que os fluxos destroem e criam, combinam e separam perpetuamente" (pág. 94).
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
(1) Metrópoles (in) sustentáveis. Rio de Janeiro: Relume Dumará. 1997.
(2) A cidade como um híbrido: natureza, sociedade e 'urbanização-cyborg' in A duração das cidades.

2007/02/14

Sob a pele da perturbadora queda de Ícaro


"Mas 'embaixo' (down), a partir dos limiares onde cessa a visibilidade, vivem os praticantes ordinários da cidade. Forma elementar dessa experiência, eles são caminhantes, pedestres, Wandersmäner, cujo corpo obedece aos cheios e vazios de um 'texto' urbano que escrevem sem poder lê-lo. Esses praticantes jogam com espaços que não se vêem; tem dele um conhecimento tão cego como no corpo-a-corpo amoroso. Os caminhos que se respondem nesse entrelaçamento, poesias ignoradas de que cada corpo é um elemento assinado por muitos outros, escapam à legibilidade. Tudo se passa como se uma espécie de cegueira caracterizasse as práticas organizadoras da cidade habitada. As redes dessas escrituras avançando e entrecruzando-se compõem uma história múltipla, sem autor nem espectador, formada em fragmentos de trajetórias e em alterações de espaços: com relação às representações, ela permanece cotidianamente, indefinidamente, outra".
Sob a tessitura dos papéis, e sob os pés por onde caminham e se gravam as normas e as leis também se projetam cidades ideais, lá onde subjaz o mundo em tensão, o mundo em conflitos, o mundo dos conflitos. Sensação de desnatureza sobre a não-natureza dos papéis e das grafias que se tornam o "caráter perturbante, de violência originária e de transgressão de uma ordem natural" (PESAVENTO 2004:166) quando se materializam em carne e pedra. Vazando por entre a ordem idealizada, sonhada, imaginada e grafada dos papéis, escorrem os mundos dos homens que escapam ao panóptico e constroem uma contra-ordem de individualidade exacerbada, uma outra espécie de lógica que tem o seu próprio rítmo (idem, p. 192). Essa é a dialética entre a ordem de um mundo conhecido e a desordem do desconhecido, observada por Pesavento na literatura que representa a cidade colonial brasileira, mas muito recorrente na construção do conhecimento no ocidente.

Após ter dito que o moderno sai do papel para a ele retornar como representação e discurso da modernidade, me obrigo a dizer que o que escapa, o que não é representado, o estado de cegueira, as "poesias ignoradas", as narrativas sem autoria, são partes do inaudito, do inominável, do que escapa ao conhecimento, do a-histórico, a-literário. Tudo o que foge ao rigor do representado no papel só podemos dizer que é o desconhecido: o caminhante benjaminiano, o animal anônimo de Joca Terron, o errante Stephen Dedalus de Joyce, todos dominados pelo afã do desvendamento do passado que se escapou, todos ícaros caídos que se reinventam em sua busca desenhando mapas de imaginação sobre o rés do chão, no plano onde "a gesta ambulatória joga com as organizações espaciais, por mais panóptcas que sejam" (CERTEAU 1994: 180). Contudo, no mesmo instante em que se dá por satisfeito, consegue "ultrapassar o espanto das descobertas, desvendar criticamente os mecanismos da dominação, (...) mesmo assim, não basta" (MEYER 2001:40).

O desconhecido ainda continua a se dar por ser desvendado. Não se basta. É objeto mutante face a face aos homens da fábrica, aos homens do mundo caipira, aos marginais das favelas, aos migrantes da periferia, aos pretos discriminados, aos índios acuados, (...) condenados à urbanização sociopática, à mais-valia, à alienação, à miséria, à morte" (BOSI 1978 - prefácio.

O desconhecido é a própria face do múltiplo materializado em Babel, "símbolo da tomada de possessão dos homens sobre a natureza, o que em princípio marcaria o advento da cultura e da civilização" (PESAVENTO 2004: 171), mas como tal, é também a imagem simbólica do múltiplo, da desordem, da confusão, cujo destino é o inacabamento ou a incompletude de um desiderato (idem, pp 172,175).

O movimento dos errantes chama atenção para a distância entre as intenções racionalizadoras do espaço urbano e a realidade, pois esta "tem apenas uma leve relação com o que teria sido o pattern do percurso lógico ou necessário. Derrota diante do desafio inicial de se conciliar o irreconciliável polis e natura (Creonte x Antígona), mas derrota diante de trajetórias que são sobretudo visuais. A perturbadora queda de ícaro consiste em mais do que tentar reconciliar o irreconciliável, consiste em tentar apreender o inapreensível. E o que escapa ao universo de conhecimento de Creonte, do pesquisador-ícaro, é o desconhecido do indivíduo, do universo particular: esse é o dédalo impenetrável a ícaro que se situa "no rés do chão". Nesse universo infinito onde nenhum esquema descritivo é empregado pelas ciências ou pela arte como forma de dominação da natureza, e como forma de naturalização e coisificação das coisas dominadas.

A cidade retorna ao papel, porém recoberta pelas errâcias de ícaros e flaneurs impregnadas em símbolos que replicam a máxima de Munari: das coisas nascem coisas.

MUITO ALÉM DA MECANIZAÇÃO FORDISTA


As metrópoles tem superado todas as expectativas quanto ao desenvolvimento urbano, desde a dinâmica de metropolização que se inicia na Europa do século XIX, tendo se alastrado pelo globo no girar do século XX. O sprow metropolitano, o alastramento das metrópoles, bem como o crescimento destas, resultará num processo bem mais complexo, o da megalopolização, e outros fartamente classificáveis ao sabor dos antropólogos. A ONU vê a metropolização bem como a megalopolização como dos mais graves problemas a serem resolvidos nos próximos dez anos (http://www.unesco.org/courier/1999_06/fr/dossier/intro.htm). Por outro lado, esse plus de cidades que se amalgamam em megalópoles, não são produtos apenas de modernizações ou de pós-modernizações, são também produtos de histórias e de suas multi-temporalidades que abandonam qualquer idéia de sequência e linearidade tal qual uma mecanização fordista.

Espaço, compasso, metropolização

Ao fazer 40 anos de cidade, os goianienses já estavam em avançadoprocesso de concretização vertical, e a partir daí, desembestou-se o processo de metropolização, criou-se um vasto território de abrangência, atualmente como metrópole, porém, entrevisto verificável desde o seu surgimento como capital planejada. Este território de abrangência pode ser entendido como semântica e sintaxe de espaços que articulam uma dinâmica de ambientes construidos e os seus significados correspondentes, que remetem simultaneamente às suas multiplas faces materiais e simbólicas: capital, cidade e município.As dinâmicas urbanas de Goiânia e a organização de seus espaços enquanto capital, cidade e município, se processam em intrincadas teias e cadeias que fundem semântica e sintaxe do espaço na metrópole e na metrópole regional, este complexo objeto urbano.A história da capital se funde com a história da cidade que se funde com a história do município. Esses níveis de fusões constituem a história da metropolização. Não se confunde com a história do urbanismo. Pode ser entendida também como história da urbanização.Conforme registra a ONU, diversas metropolizações já caminham para diversas megalopolizações. Os historiadores das urbanizações terão que estudar a metrópole como mais uma das múltiplas faces do complexo urbano., metrópole, metrópole regional. o seu inacabado processo de metropolização.A história da metropolização se realiza, portanto, não apenas pela construção física de ambientes e objetos, da sintaxe urbana, mas também pela construção dos significados que tais ambientes e objetos passam a ter a partir das experiências de vida.Isto significa dizer que no processo de metropolização, nem toda sintaxe urbana possui uma semântica. Nem todo objeto urbano adquire significado, simplesmente por um vazio de vivências em relação a tal ou tais objetos. São as vivências que determinam o que deve ser lembrado e o que deve ser esquecido. Apagar a memória e construir o memorável estão na raiz das dinâmicas dos espaços. Lembrar e esquecer estabelecem uma dialética entre sintaxe e semântica urbanas. Para além de uma retórica da perca, a história dessas dinâmicas urbanas é uma coronária que pulsa bombeando lembranças e esquecimentos, bem como objetos e representações urbanas que constituem a intricadas teias de relações entre o que é a capital, o que é a cidade, o que é o município, o que é a metrópole e qual o seu mais amplo território de abrangência.Contudo, a dialética entre semântica e sintaxe urbana explica porque a cidade se metropolizaSão espaços de fluxos, espaços de lugares (permanências) e espaços de hibridações (fluxos-lugares). Considerando que o seu território de abrangência está além do que atualmente é a sua área conurbada, e isto é facilmente verificável desde o seu surgimento como capital planejada (...)

No Blog do Marcelho

No Blog do Marcelo Coelho, publicado na Folha On Line de 07/01/2007, há uma longa discussão sobre Beleza, arquitetura e cidade, que começa assim: "A "Folha" promoveu uma enquete entre arquitetos para saber quais seriam os prédios mais feios de São Paulo. Não houve unanimidade; no máximo, menções esparsas a coisas como a loja da Daslu, o prédio da Dacon e até o Edifício Martinelli"...
Na sequência, eu fiz diversos comentários, que transcrevo abaixo:
A questão toda gira em torno de um único ponto: a fusão entre História e Arquitetura. Começamos a discutir a arquitetura pós Complexidade Contradição (de Venturi) no Brasil somente agora, porque só agora a antiga fusão entre uma História Linear focada no devir (Organizar o passado para construir um belo fututo) cede espaço que realmente se preocupa com as pessoas comuns, no "agora". Dizer que o Blue Tree é horrível não é uma ofensa, é uma simples constatação de que os padrões estéticos mudaram, e mudaram para abrigar o diverso, o múltiplo, o variável. Já não há mais lugar para o "Homem universal" de Corbusier. Não existe mais o demodé, a própria noção de moda como uma imposição já sofreu alterações para se adaptar ao novo momento que funde História e Cultura. Como disse Lipovetsky, esse é o Império do Efêmero, e nesse "império", não há espaço para uma estética hegemônica. Nesse sentido, O Belo de Nyemeier e o Feio de Otahk, juntos são a celebração da diversidade!
Não acredito que a questão central seja a opinião colocada pelo arquiteto Márcio - posteriormente publicada na íntegra pelo Marcelo Coelho -, muito menos que se trate de uma "perda da crítica na arquitetura contemporânea brasileira". Ambos estão absortos em anacronismos, na fusão entre História e Arquitetura, algo imcompreensível em cenários metropolitanos, pós-humano (como diria L. Santaella). Vivemos hoje momentos urbanos que superam as dicotomias, as bilateralidades. Não é à toa que Foucault disse antes de morrer que um dia o século XX seria Deleuziano, ou seja, as cenas metropolitanas com suas multiplas bifurcações cristalizam o que Braudel já havia intuído no cenpario mediterrâneo: as cidades estão em Redes!!! Já não bastam mais os paradigmas dualistas para se pensar tal realidade. Já não basta o dentro/fora, o claro/escuro, o belo/feio, etc. A realidade multi urbana e pós-colonial é bem mais abrangente. o papel da crítica (de arquitetura, de cinema, de arte, etc) se desfigurou Todas as críticas se desfiguraram depois que seus canais de divulgação perderam sua unicidade, hoje é fácil observar as miríades de blogs que pululam críticas e opiniões diversas... A sociedade está funcionando em rede (diria Castells), as opiniões não seguem mais linearidades e universalidades, elas se distribuem em milhões de rizomas (diria Deleuze e Guatari), quebrando qualquer idéia de unicidade entre história e arte, história e arquitetura, história e política, etc. Tá dificil entender que os objetos de estudos não são mais exclusividades de uma disciplina estrita e restrita??? Humpf!
Minha opinião é que Márcio é redundante e anacrônico, ao falar de Cidade, como se estivesse na Grécia Antiga, ou em uma cidade européria pré-renascentista. Ao discorrer uma fala digamos "arquitetônica", perde as conexões necessárias para se pensar o tema Urbano, complexo tal como se apresenta na atualidade. A sua fala funde mais uma vez o discurso linear e bipolar História x Arquitetura, corroborado por uma teoria da Arte, desconsiderando que a complexidade aqui colocada exige bem mais que uma teoria da arte, requer flertes com a abrangência da estética em suas diversas faces, inclusive a literária, pois, basta ver que nenhum arquiteto estrela atualmente sobrevive sem o recurso potente da estética da escrita, vide Complexidade e Contradição, Aprendendo com Las Vegas, Delírios em New York, e outros. Muito além da antropologia e mesmo da Semiótica Pirceana, a arquitetura jaz capturada e agonizante pelo presentismo pós-estruralista, que instaura uma outra noção de tempo operando a lise do que antes parecia eterno: a fusão entre história e arquitetura".
A resposta do Marcelho, foi:
- Obrigado pelo comentário, Wilton! Muito interessante o que você escreve.
Depois, ainda no Blog do Marcelho, descobri a obra do Aldir, coisa maravilhosa...


VISITINHA AO SEPLAM

Ao fazer uma visitinha aos alfarrábios da SEPLAM (1), dei de cara com vários recortes de jornais - organizados, tipo hemeroteca - que noticiavam o andamento de um "Projeto Goiânia 50 anos", que era então noticiado nos anos 1983. Bom, eu já conhecia o livro "Goiânia 50 anos", de Edgard Graeff - um velho professor de arquitetura da UnB, já falecido -, mas percebi, por meio daquelas notícias amareladas, que o referido projeto não tinha relação como o livro publicado por Graeff em 1983. O que me intrigou, é que esse livro de Graeff, por demais conhecido poe estas terras acadêmicas, também não faz a menor referência ao referido Projeto. Tampouco os trabalhos acadêmicos aos quais tenho acesso o citam ou a ele se referem. Tentando dissipar a indagação que flutuava no ar, fustiguei a bibliotecária da SEPLAM, que me informou que na última prateleira, de cima para baixo, de um armário de aço verde escuro quase preto, estavam seis caixas contendo arquivos de tal Projeto. Logo na primeira caixa que abri, encontrei algo no mínimo curioso.

.............................
(Secretaria Municipal de Planejamento / Goiânia)

2006/07/29

Artigos para pesquisa 1


2006/07/06

Artigos para pesquisa 2

2006/07/05

A R C H I T E C T S

Camilo Sitte
J. L. Sert (1951)
Salvador Rueda
Aldo Rossi
Rafael Moneo
Ramon López de Lucio
Koolhas
Peter Hall
Corbusier/Carta de Atenas
Roberto Segre

Artigos para pesquisa 3

Ciudad letrada: Ángel Rama y la espacialización del análisis cultural
Intelectuales, intereses, textos, teorías, símbolos, metáforas, sensibilidades, programas, no sólo han sido "desterritorializados", sino que parecen haber ingresado a una zona inmaterial, tierra de nadie, aparentemente sin forma ni estructura, suspendida encima de todos, y desvinculada del mundo, aparentemente ajena a la lógica social y material que rige la producción cultural (en la que la dimensión espacial juega un papel clave). No sólo ajenos a la lógica espacial que gobierna el mundo físico... Gustavo Remedi

Artigos para pesquisa 4

Crítica urbana
Representaciones como "textos" que se pueden leer, analizar, interpretar, criticar, es decir, sobre los cuales se puede practicar "la disciplina de la crítica literaria", el análisis ideológico, y los estudios culturales. Gustavo Remedi

Artigos para pesquisa 5

Revista [Bifurcaciones] Conceptos para pensar lo urbanoel abordaje de la ciudad desde la identidad, el habitus y las representaciones sociales

2006/06/01

2006/04/10

Como nas cidades francesas do século XVIII

Como nas cidades francesas do século XVII, as cidades hoje ainda constituem universos culturais onde as escritas ainda representam algum papel, mesmo para aqueles que não as decifram ou atribuem a elas inteligibilidade. As cidades estão impregnadas de cifras, e os intelctuais sabem disso, por isso as tratam como minas cujos minérios são os códigos que delas devem extrair para torná-las decifráveis.
Essa decifração, essa inteligibilidade, para Bourdieu, é uma necessidade profundamente inscrita no inconsciente dos intelectuais, fazendo parte, portanto, da "produção da crença", (...) frequentemente sonhos de mágicos pois o livro é algo que permite agir à distância", existindo também outros meios para esse toque mágico, como os políticos, por exemplo, ao darem ordens, "mas o intelectual é também alguém que pode agir à distância ao transformar as visões de mundo e as práticas cotidianas" (BOURDIEU 1996:239; 423).
Tocados por esses "magos" cujos poderes são o de inscreverem cotidianos em roteiros urbanos preconcebidos e pejados de ordens que vão muito além do universo familiar, vivemos no universo urbano desfamiliar, mas ao mesmo tempo decifrável, legível, portanto reconhecível pela via do intelecto. "Logo, toda cidade é lugar de uma braçagem que tranforma os homens, pois todos, através dos caminhos, postos e novidades, tomam aí, mais rápido, o ar de um mundo que não se reduz mais aos horizontes familiares" (ROCHE 1996: 178).

" A numeração das casas, testada em Caen, depois em Paris, e generalizada à época da Revolução, é uma inovação capital. Ela impõe um novo olhar, uma aritmética mental e uma percepção mais raciocinada do espaço cotidiano que substitui a sensação espontânea e familiar. A realidade dos domicílios, antes mal individualizados, concretiza-se melhor; a circulação dos homens e das coisas, menos sujeitas a se perder, acelera-se um pouco. A leitura de um número de endereço inscreve-se na consciência moderna da mesma forma que outros gestos de medida; ela faz recuar a escuridão que recobria e, talvez, protegia um território essencial da vida cotidiana.
(...) A novidade, claro, não é o nome da rua, mas a vontade de fixar uma prática cotidiana de informação por meio de um procedimento simples.
(...) Todas essas maneiras de utilizar os escritos, toda essa familiaridade com a circulação dos saberes sublinham as possibilidades de aculturação urbana. Com a impressão, esta adquire uma flexibilidade e uma capacidade pedagógica ainda maior" - pgs 194-195; Daniel Roche; As Práticas da escrita nas cidades francesas do século XVIII in Práticas da leitura; Roger Chartier.


Portanto, a cidade é feita de escritores e leitores. O consumo cultural é estruturante e estruturador, também um grande articulador desse universo cultural, atestando que "não existe compreensão autônoma do que é dado ler ou a entender, mas articulação em torno de uma biblioteca do texto lido" (GOULEMOT 1996:115). O sentido da vida urbana é dado tanto pelos seus escritores quanto por seus leitores. Como no texto escrito, "O sentido nasce, em grande parte, tanto desse exterior cultural quanto do próprio texto e é bastante certo que seja de sentidos já adquiridos que nasça o sentido a ser adquirido. De fato, a leitura é jogo de espelhos, avanço especular" (idem).
Grande parte da vida urbana é dinamizada por seu capital cultural, no que se refere ao binômio escrita/leitura. A emancipação do indivíduo, o reforço do papel da família, as papeladas e burocracias que balizam o percurso do estado civil...

"na cidade, sempre há um meio de escrever ou mandar escrever. A instrução elementar é um trunfo considerável para o trabalho e para o recrutamento: é escrevendo que se aprende onde encontram-se as boas colocações, é por carta que recebemos os requisitos do emprego até os gastos com as mudanças. (...) A clareza das relações sociais impõe a todos terem sempre seus documentos" (ROCHE 1996:186;187).

REFERÊNCIAS:
BOURDIEU, Pierre. A leitura: uma prática cultural - debate entre Pierre Bourdieu e Roger Chartier. in Práticas da leitura. CHARTIER, Roger (Org.). São Paulo: Estação Liberdade. 1996.
ROCHE, Daniel. As práticas da escrita nas cidades francesas do século XVIII. in Práticas da leitura. CHARTIER, Roger (Org.). São Paulo: Estação Liberdade. 1996.

2006/02/16

Da nova fonte aparentemente inesgotável

Para Eugênio Rezende de Carvalho, a expectativa de mudança é um elemento
permanente na vida dos primeiros habitantes de Goiás, um sentimento de transitoriedade próprio do clima épico dos anos iniciais da atividade mineradora que, amalgamado ao derrotismo da decadência da mineração, vai compor a mentalidade-herança que visivelmente se solidifica na ideologia dos idealizadores de Goiânia. "Esta visión sería enriquecida por los 'revolucionarios del 30' con la incorporación - aunque a su modo, respetando sus limitaciones y posibilidades- de la ideología liberal del progreso y del desarrollo pregonada por Vargas y sus seguidores. (...) Los deseos de cambio, tal su magnitud, logran elaborar un sentimiento propicio a la penetración e influencia de la idea del progreso burgués." (CARVALHO 1995: 178; 182).
Nesse sentido, o elemento progresso justificava todas as ações empreendedoras da capital, como uma verdadeira caixa que dá ritmo à marcha. Goiânia seria a cristalização de uma mentalidade, de um imaginário, de uma ideologia. A incorporação e a materialização de mudanças inculcadas em uma psiquê social. Simbolo de progresso. Simbolo de mudança. Símbolo de revolução. A confluência material, visível e simbólica de fatores exógenos - Vargas e a construção do Estado Novo - e fatores endógenos - mentalidade, ideologia, imaginário, psiquê social. "La antítesis del atraso y del estancamiento, el símbolo de los ideales expansionistas del gobierno de Vargas, la esperanza en un 'nuevo tiempo” (idem, pág. 184).
Goiânia materializa um novo espaço para um novo tempo, instituindo o tempo futuro como realidade vivida que reincorpora a experiência contida na mentalidade da mudança. Nesse sentido, incorporar o futuro em forma de cidade, significa instaurar, até intitucionalizar a mentalidade e o desejo permanente de mudança. Essa mentalidade e esse desejo, por outro lado, é estabelecido como a permanência do imparmente, pela via da ideologia burguesa do progresso, legitimada, modernamente pelo instituto da ciência e da técnica.
O instituto da ciência e da técnica, que se expressa também na forma urbana, significa a possibilidade de permanente imparmenência, a instituição da descontrução pela via moderna da construção de novos espaços. Na construção permanente de novos espaços, se presentifica a possibilidade de permanente futuralização da realidade. Nesse sentido, o novo, Goiânia, significa ao mesmo tempo a presentificação do futuro e do passado e a volta otimista do sentimento de transitoriedade próprio do clima épico dos anos iniciais da atividade mineradora. De forma quase mágica, essa cidade cingida pelo novo se torna a grande fonte de riquesas, cujos veios e mananciais são aparentemente inesgotávies.

REFERÊNCIAS:
CARVALHO, Eugênio Rezendo de. La ideologia del progresso y la utopia de Goiânia. Espiral, Estudios sobre Estado y Sociedad. Vol I. No. 2. Enero Abril de 1995 [on line - pesquisa em 16/02/2006]

AOS 40


Ao fazer 40 anos de cidade,
os goianienses já estavam em avançado
processo de concretização vertical
Essa foto aí mostra a Avenida Araguaia (transversal),
sendo interceptada por três ruas e uma avenida.
A venida tem canteiros centrais.
É uma foto antiga, tirada de um jornal antigo,
mas dá pra matar um pouquinho
a curiosidade de saber quantos e
quais eram os primeiros edifícios de
múltiplos andares em Goiânia.

FOGO


Esse céu que parece fogo
aí, é o retrato de um dia em que
eu madruguei, acordei inspirado,
foi nesse dia que eu escrevi o poema
A BELA MADRUGADA, abaixo.

2006/02/10

JANELAS


Fotos de mim espelhadas no céu
Um dia beijam e são românticas
Outros dias são nubladas
Fotos que não desbotam cada vez que me vejo lá
E estou lá
Naquele céu de janela
E cada dia me vejo
naquelas pequeninas e verdes
plantinhas que um dia semeei
E cada dia me ponho a pensar
Num penoso escafandro
de poeta e filósofo
Mergulhando no céu
de pernas pro ar brincando e brigando
com minha namorada
E começo a escrever
E penso que não vou parar
e recomeço de novo
Todos os dias
O meu penoso pensar
de poeta e filósofo
E laço e desato nós
E sinto a robustez de meu corpo
E vejo a janela de novo
Outra vez o céu que nunca foi o mesmo
e saio para trabalhar
e selo o meu recomeço
E o meu pensamento me diz
Poesias

2006/02/06

A BELA MADRUGADA

A madrugada cura
A madrugada é pura
Ela vem tranquila
Pousando no sereno
É mais clara que o dia
É sincera e se revela
O dia da madrugada
é o dia em que tenho paz
O dia que me refaz
A madrugada jura
ser sincera e fiel
e me acalma abraçando pela nuca
A madrugada é mais
Renova as minhas certezas
e me faz sentir prazer na vida

wiLmEDEiroS

2006/02/05

PARTES

Círculos de papel giram sobre a minha cabeça
Frações de segundos me separam
Funções de desmundos me separam
Ficções na madrugada me separam
Reações de personagens me separam
Ereções imaculadas me separam
Finjo que não sabia saber
Fujo da força que me detem
Fujo da madrugada resvalando em galpões, calçadas e parapeitos
Fujo da face meiga da cruel decepção
Sou Norte, pareço parte do navio à deriva
que deteve ondas de devastação
Faço do aqui a minha chegada
Emendo e remendo pedaços
Parte de mim havia escrito
Parte de mim havia morrido
se imortalizado
Parte de mim havia se perdido
depois achado
Parte outra natimorta
E outra ainda nem nascida
Partes que vagueiam como letras negras
Sangrando os papéis
Que giram e desnorteiam
Que giram e desnorteiam
Que giram e desnorteiam

wilMEDEIROS